domingo, 31 de março de 2013

HOMÔNIMOS X PARÔNIMOS



sábado, 30 de março de 2013

A PAIXÃO DE CRISTO IDEAL...


Briga na Procissão
(Chico Pedrosa)

No tempo em que as estradas
Eram poucas no sertão,
Tanger hinos e boiadas
Cruzavam a região.
Entre volante e cangaço
Quando a lei era do braço
Do jagunço pau-mandado
Do coroné invasor
Dava-se no interior
Esse caso inusitado.

Quando Palmeira das Antas
Pertencia ao Capitão
Bento Justino da Cruz
Nunca faltou diversão:
Vaquejada, cantoria,
Procissão e romaria,
Sexta-feira da paixão.


Na quinta-feira maior,
Dona Maria das Dores
No salão paroquial
Reunia os moradores
E ao lado do Capitão
Fazia a seleção
De atrizes e atores.


O papel de cada um
O Capitão que escolhia
A roupa e a maquilagem
Eram com Dona Maria
O resto era discutido,
Aprovado e resolvido
Na sala da sacristia.


Todo ano era um Jesus,
Um Caifaz e um Pilatos
Só não faltavam a cruz,
O verdugo e os maus-tratos
O Cristo daquele ano
Foi o Quincas Beija-Flor
Caifaz foi Cipriano,
Pilatos foi Nicanor.


Duas cordas paralelas
Separavam a multidão
Pra que pudesse entre elas
Caminhar a procissão
Cristo conduzindo a cruz
Foi não foi advertia
Pro centurião perverso
Que com força lhe batia.


Era pra bater maneiro
Mas ele não entendia
Devido a um grande pifão
Que bebeu naquele dia
Do vinho que o capelão
Guardava na sacristia.


Cristo dizia: ôh, rapaz,
vê se bate devagar!
Já estou todo encalombado,
assim não vou aguentar,
tá com a gota pra doer,
ou tu pára de bater
ou a gente vai brigar!


O pior é que o malvado
Fingia que não ouvia
E além de bater com força
Ainda se divertia,
Espiava pra Jesus
Fazia pouco e dizia:
Que Cristo frouxo é você,
que chora na procissão?
Jesus pelo que eu saiba
não era mole assim não.


Eu tô batendo com pena,
tu vai ver o que é bom
na subida da ladeira
da venda de Fenelon.
O couro vai ser dobrado
daqui até o mercado
a cuíca muda o som!


Naquele momento ouviu-se
Um grito na multidão
Era Quincas que com raiva
Sacudia a cruz no chão
E partia feito um maluco
Pra cima de Bastião
Se travaram no tabefe,
Ponta-pé e cabeçada.


Madalena levou queda,
Pilatos levou pancada
Deram um bofete em Caifaz
Que até hoje não faz
Nem sente gosto de nada.
Desmancharam a procissão,
O cacete foi pesado.


São Tomé levou um tranco
Que ficou desacordado
Deram um cocorote
Na careca de Timóti
Que até hoje é aluado.
Inté mesmo São José,
Que não é de confusão
Na ânsia de defender
O filho de criação
Aproveitou a garapa
Pra dar um monte de tapa
Na cara do bom ladrão.


A briga só terminou
Quando o Doutor Delegado,
Interviu e separou:
Cada Santo pro seu lado!
E desde que o mundo se fez,
Foi essa a primeira vez
Que Cristo foi pro xadrez,
Mas não foi crucificado.

quinta-feira, 28 de março de 2013

COM A PALAVRA, O SR. CORRETOR...

Corretor do Enem desabafa: “Vejo meu trabalho ir por água abaixo”
Em entrevista, professor de redação conta bastidores e problemas da correção

LAURO NETO (EMAIL)

RIO - A correção da redação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) não está provocando insatisfação e revolta apenas entre os candidatos. Em entrevista ao GLOBO, um professor de redação que foi corretor desta edição da prova conta os bastidores do processo gerenciado pelo consórcio Cespe/UnB e desabafa: “Estou vendo o trabalho que fiz durante todo o ano sendo jogado por água abaixo. É muito revoltante!”. Professor de colégios tradicionais do Rio de Janeiro e integrante de bancas de vestibulares consagrados, ele não pode ser identificado, pois assinou um contrato de sigilo. Leia a entrevista.

O GLOBO: Por que a correção da redação este ano está causando tanta polêmica?
O processo de correção já começou com um problema, pois os supervisores tiveram um aumento de trabalho e ganham fixo, enquanto o corretor ganha R$ 1,60 por redação corrigida. Houve um aumento do trabalho, pois a discrepância necessária para a terceira correção, que é feita pelos supervisores, caiu de 500 para 300 pontos. Isso aconteceu sem que o valor pago a cada supervisor fosse aumentado. Havia um certo mal estar na supervisão. Teve um supervisor que desistiu uma semana antes de começar o processo. Havia muito insatisfação. Parece que alguns supervisores fizeram o trabalho de má vontade por serem mal remunerados. Estou muito irritado porque estou vendo o trabalho que fiz durante todo o ano sendo jogado por água abaixo. É muito revoltante!

Mas não houve uma preocupação em melhorar a correção diante dos problemas do último Enem?
O Cespe aprimorou o sistema de avaliação da correção. O corretor é avaliado constantemente, principalmente no tempo em que cada redação fica aberta na tela do seu computador. Mas o corretor também erra, e a correção on-line dá brechas para burlar os filtros de qualidade.

Como é feita essa avaliação?
Cada corretor recebe diariamente uma nota da sua correção. Se não mantiver uma média 8, pode ser cortado do processo. Teve gente cortada durante o processo de correção. Mas não sabemos o que aconteceu com as redações que foram corrigidas por essas pessoas. Também houve pessoas que abandonaram a correção no meio, e as redações foram redirecionadas a outros corretores.

Como foi feita a distribuição das redações para os corretores?
Recebemos diariamente 100 redações pela internet. No nosso envelope virtual, existe uma redação corrigida por alguém da banca Cespe, que chamamos de redação de ouro. É uma maneira de o Cespe ficar atento aos corretores. Há outra redação no pacote que é corrigida por muitos corretores. Ela recebe uma nota média para verificar a qualidade e a coerência da banca. Mas não sabemos quais notas prevalecem.

Quanto tempo você demorava para corrigir uma redação?
Gastava de 2 minutos e meio a 3 minutos por redação, de 2 duas horas e meia 3 horas por dia para corrigir as redações. Se todo mundo seguisse o treinamento do Cespe, não haveria problemas. No Rio, os professores são muito experientes. Mas não sabemos como foi feito o treinamento nos confins do Brasil.

O que difere correção da redação do Enem de outros vestibulares?
O nível de exigência é menor do que se cobra normalmente nos colégios dos grandes centros urbanos. Fomos instruídos pelo Cespe a dar notas 900 ou 1.000 em redações que valiam 600. A nota zero sempre tem que ter vista por uma terceira pessoa, por um supervisor que é sempre ligado a uma universidade. Mas o Cespe se nega a conceder a revisão de fato. Isso demonstra que há uma vulnaberalidade no sistema, pois é um direito do candidato.

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quarta-feira, 27 de março de 2013

terça-feira, 26 de março de 2013

SALVE: O AMOR EM SOL MAIOR RAIOU!

Capa do livro.

Muitas coisas já foram ditas sobre poesia. Dos formalistas russos à Escola de Frankfurt, passando pelo estruturalismo e teóricos uspianos, aqueles que não são abençoados com o estro poético tentam, a todo instante, categorizar, armazenar, enquadrar, estereotipar a poiesis em páginas enfadonhas de teoria literária.
Outros, no entanto, privilegiados, têm a oportunidade – ou a bênção – de virem ao mundo com as mentes iluminadas e as mãos criativas, vigorosas. Sem se importarem com a crítica, com os padrões, com os modelos que vigoram no orbe, imaginam, labutam e criam, reluzindo páginas de boa literatura à mancheia.
E o que dizer de um livro que foi escrito de forma mediúnica? É possível? Para aqueles que são leigos, ou que acham que é coisa do Mefistófeles, isso é possível através da mediunidade psicográfica. O maior médium de psicografia planetário foi o brasileiro, eleito o maior de todos os tempos por uma rede de televisão, Francisco Cândido Xavier, o nosso Chico Xavier (1910-2002).
E o mineirinho de Pedro Leopoldo publicou dessa forma 415 livros, de todos os gêneros e gostos. Embora sempre tivesse dito que era como um carteiro, que recebia a mensagem e passava adiante (nunca tendo recebido um real da venda dos mesmos, doando a instituições de caridade os direitos autorais!), notabilizou-se e angariou respeito até mesmo dos adversários da Doutrina Espírita, que ele professava.
Sim, mas por que esse introito todo? Ah, lembrei. Para falar do último lançamento lítero-mediúnico que ocorreu em nossa cidade. Um livro editado pela Editora do Conhecimento, magnífico, escrito única e particularmente com as penas do coração: Amor em Sol Maior! Poesia pura, lirismo consolador, delícia da alma redigida pelo espírito de Antônio de Deus, além de outros por este convidado, através do médium grapiúna Ary Quadros Teixeira.
São trovas belíssimas, livres, sem apegos a formalismos, mas com ritmo e cadência típico dos repentistas nordestinos. O livro nos traz lições como: “É o amor que liberta/Das algemas da dor/E ajuda em festa/A voltar ao Criador”, em Chuva de Luz, página 20. Além disso, mensagens, haikais e poemas em homenagem à Zumbi, à Revolução Francesa e a vários companheiros de jornada embelezam e humanizam ainda mais a obra.
Mas isso não é o mais importante. Vale ressaltar que toda renda do livro será revestida para a construção do Recanto de Potira, Núcleo de Promoção Social, no Bairro Nova Ferradas, em Itabuna, no entorno do lixão. O recanto, em fase de construção, terá atendimento médico, odontológico, fisioterápico e psicológico totalmente gratuitos para a população local. Ainda mais, continuarão a distribuição de enxovais e feiras por seis meses a gestantes carentes, como já vem acontecendo há anos.
É um trabalho digno e honesto, qual de formiguinhas incansáveis, porém que vale a pena a participação da sociedade.
Através da compra de um simples livro, todos estarão salvando vidas! Vidas destroçadas pelo establishment, relegadas à própria sorte, esquecidas pelo capitalismo predador, e que dependem somente da compaixão alheia.
* Gustavo Atallah Haun é professor, formado em Letras, UESC, e ministra aula em Itabuna e região. Escreve para jornais de Itabuna, Ilhéus e edita oblogderedacao.blogspot.com (g_a_haun@hotmail.com). É maçom, da Loja Acácia Grapiúna.

PENSAMENTO DO DIA:


segunda-feira, 25 de março de 2013

AI, MEUS NEURÔNIOS...


Enem 2012: textos nota 1000 têm erros como ‘enchergar’ e ‘trousse’

Redações também apresentam graves desvios de concordância


LAURO NETO (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
Publicado:17/03/13 - 23h00
Atualizado:18/03/13 - 8h20

RIO — “Rasoavel”, “enchergar”, “trousse”. Esses são alguns dos erros de grafia encontrados em redações que receberam nota 1.000 no Exame Nacional de Ensino Médio 2012 (Enem). Durante um mês, O GLOBO recebeu mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima, com a comprovação das notas pelo Ministério da Educação (MEC) e a confirmação pelas universidades federais em que os estudantes foram aprovados. Além desses absurdos na língua portuguesa, várias redações continham graves problemas de concordância verbal, acentuação e pontuação.
Apesar de seguirem a proposta do tema “A imigração para o Brasil no século XXI”, os textos não respeitavam a primeira das cinco competências avaliadas pelos corretores: “demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita”. Cada competência tem a pontuação máxima de 200 pontos.
Segundo o “Guia do participante: a redação no Enem 2012”, produzido pelo MEC, os 200 pontos na competência 1 são atingidos apenas se “o participante demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando ou apresentando pouquíssimos desvios gramaticais leves e de convenções da escrita. (...) Desvios mais graves, como a ausência de concordância verbal, excluem a redação da pontuação mais alta”.
O manual aponta, entre os desvios mais graves, erros de grafia, acentuação e pontuação. Na mesma redação em que figura a grafia “rasoavel”, palavras como “indivíduos”, “saúde”, “geográfica” e “necessário” aparecem sem acento. E ao menos dois períodos terminam sem o ponto final.
Em outro texto recebido pelo GLOBO, aparecem problemas de concordância verbal, como nos trechos “Essas providências, no entanto, não deve (sic) ser expulsão” e “os movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI é (sic)”. O mesmo candidato, equivocadamente, conjuga no plural o verbo haver no sentido de existir em duas ocasiões: “É fundamental que hajam (sic) debates” e “de modo que não hajam (sic) diferenças”.
Uma terceira redação nota 1.000 apresenta a grafia “enchergar”, além de problema de concordância nominal no trecho “o movimento migratório para o Brasil advém de necessidades básicas de alguns cidadãos, e, portanto, deve ser compreendida (sic)”. Em outro texto, além da palavra “trousse”, há ausência de acento circunflexo em “recebê-los” e uso impróprio da forma “porque” na pergunta “Porém, porque (sic) essa população escolheu o Brasil?”.
Pós-doutor em Linguística Aplicada e professor da UFRJ e da Uerj, Jerônimo Rodrigues de Moraes Neto diz que essas redações não deveriam receber a pontuação máxima.
— A atribuição injusta do conceito máximo a quem não teve o mérito estimula a popularização do uso da língua portuguesa, impedindo nossos alunos de falar, ler e escrever reconhecendo suas variedades linguísticas. Além disso, provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar, em níveis profissional e pessoal, e de decodificar o próprio sistema da língua portuguesa — aponta Moraes Neto.
Claudio Cezar Henriques, professor titular de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da Uerj, reitera que, ao ingressar na universidade, esses alunos terão de se ajustar às normas da língua de prestígio acadêmico se quiserem se tornar profissionais capacitados. Ele observa que a banca corretora não usa o termo “erro”, mas “desvio”, algo que, segundo ele, é “eufemismo da moda”.
— A demagogia política anda de braço dado com a demagogia linguística. É preciso lembrar que as avaliações oficiais julgam os alunos, mas também julgam o sistema de ensino. Na vida real, redações como essas jamais tirariam nota máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita. Afinal, pareceres, relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem esses desvios/erros colocarão em risco o emprego de revisores, pesquisadores e jornalistas, não é? — ele indaga.
Logo que o MEC liberou a consulta ao espelho da redação, em fevereiro, o site do GLOBO publicou uma reportagem pedindo que estudantes enviassem redações com nota 1.000, junto com seus comprovantes. O objetivo era expor os bons exemplos no site. Porém, ao ler as redações, a equipe percebeu erros gritantes em várias dissertações. Foram enviadas ao MEC, então, quatro delas. Para não expor os alunos, os textos foram digitados, e as informações pessoais (nome, CPF e número de inscrição), omitidas. O GLOBO perguntou se os desvios não desrespeitavam os critérios estabelecidos pelo manual do MEC, e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anysio Teixeira (Inep) alegou que não comenta redações: “por respeito aos participantes, a vista pedagógica é dada especificamente a quem prestou o exame”.
Segundo o Inep, “uma redação nota 1.000 deve ser sempre um excelente texto, mesmo que apresente alguns desvios em cada competência avaliada. A tolerância deve-se à consideração, e isto é relevante do ponto de vista pedagógico, de ser o participante do Enem, por definição, um egresso do ensino médio, ainda em processo de letramento na transição para o nível superior”.
Sobre os critérios usados na correção da redação do Enem 2012, estabelecidos pela coordenação pedagógica do exame, a cargo de professores doutores em Linguística da Universidade de Brasília (UnB), o Inep informa que a análise do texto é feita como um todo. Segundo a nota, “um texto pode apresentar eventuais erros de grafia, mas pode ser rico em sua organização sintática, revelando um excelente domínio das estruturas da língua portuguesa”.

© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

sábado, 23 de março de 2013

SOBRE O ENEM... POR WALTER TAKEMOTO


A imprensa tem divulgado os "problemas" encontrados nas redações do ENEM, como o aluno que escreveu a receita do miojo, outro que inseriu o hino do Palmeiras, e um que obteve a nota máxima e escreveu "trousse".
Alguns responsabilizam os avaliadores que corrigiram as redações e "não perceberam" os erros, outros fazem piadas com as mesmas, aliás uma certa "tradição" de alguns programas e apresentadores selecionarem "pérolas" de redações para fazerem graça e divertirem o público.
Ninguém que tem compromisso sério com a educação e a escola pública pode se divertir com algo tão sério. O fracasso escolar e a péssima formação dos alunos que saem do ensino médio oferecido pelas escolas públicas é uma das maiores demonstrações do sistema excludente que vigora em nossa sociedade, pois os adolescentes e jovens que estudam nessas escolas, todos pobres e grande parte negros, são considerados pelas elites e grande parte dos gestores apenas estatísticas e números, jamais como sujeitos de direitos e importantes para a sociedade. Portanto, qualquer ensino, ou arremedo de ensino, que lhes seja oferecido esta de bom tamanho.
É assim que para os alunos da escola pública um Alfa e Beto qualquer serve, pois para quem é da periferia saber ler e escrever algumas frases é o suficiente, pois ler, interpretar textos, se apropriar do conhecimento cientifico e cultural produzido pela humanidade esta reservado como direito sagrado aos filhos da elite!
Ou damos um basta, ou seremos coniventes com um crime que se comete contra a grande maioria das crianças, adolescentes e jovens do país.
Abaixo uma carta de avaliadores do ENEM que demonstra o que tem movido os gestores da educação brasileira:


Professoras manifestam-se EM CARTA sobre redação no Enem

Postado por Juremir em 19 de março de 2013

- Educação

Boa tarde. Somos professoras de Língua Portuguesa e participamos do processo de avaliação das Redações do Enem 2012 e gostaríamos de divulgar algumas informações acerca do processo que não estão sendo divulgadas.
Já está evidente a falta de seriedade que subjaz o Exame Nacional do Ensino Médio. Sem entrar nas questões mais profundas que dizem respeito às consequências a médio e longo prazo, as notas das redações do Enem 2012 evidenciam a falta de critérios objetivos e a falta de seriedade no processo de avaliação das mesmas, embora representantes do Cespe/Unb, Ministério da Educação e Inep tentem afirmar o contrário. Nós, que estivemos nos bastidores do processo de correção das redações do Enem sabemos por que as respostas dadas pelos órgãos responsáveis não satisfazem.
Com a novidade de dar acesso às correções, foi permitido que os próprios candidatos soubessem da aparente arbitrariedade que perpassa as notas finais atribuídas. As primeiras reclamações vieram daqueles que se sentiram prejudicados, em função das notas baixas e a consequente impossibilidade de ingressar na Universidade. No dia 18 de março, foram publicados os erros das redações cujos candidatos obtiveram nota máxima. Não seria isso suficiente para se comprovar a ineficácia do sistema de avaliação?
O que não se torna público é a forma como isso acontece. À primeira vista, há subentendida a incompetência dos avaliadores. A atribuição de nota máxima no quesito domínio da norma padrão da língua escrita a um candidato que escreve trousse leva-nos a duas possibilidades: os dois professores de Língua Portuguesa responsáveis pela avaliação desta redação não sabem a grafia correta da palavra ou foram orientados a fazer vistas grossas a alguns erros, a fim de facilitar a aprovação dos candidatos.
Um processo que inicia com a seleção de avaliadores, sem necessária comprovação de experiência na área, sem prova de conhecimentos e, principalmente, sem capacitação para a tarefa não pode ser sério. Os problemas ainda são maiores do que a seleção de avaliadores. Quando, numa suposta capacitação, ocorrida num domingo, os professores selecionados para trabalhar no processo são informados de que eles estão no processo para cumprir as normas da banca avaliadora e não para questionar as orientações e os critérios de avaliação, temos evidência da falta de respeito com os profissionais. Assim, somos orientados a deixar de lado os conhecimentos que temos e, mais ainda, a ignorar aquilo que ensinamos aos nossos alunos, quando os preparamos para a redação do Enem.
Outra novidade neste ano foi a avaliação dos avaliadores. Na teoria, os avaliadores deveriam receber um relatório com informações a respeito do desempenho nas avaliações. Muitos avaliadores não chegaram a ter conhecimento acerca dessa avaliação, como nós, por exemplo. Muitos tiveram seus sistemas bloqueados por terem tirado uma nota baixa, sem ao menos saber por quê. O bloqueio de avaliadores ocorreu com frequência e a comunicação com aqueles que deveriam ser responsáveis pelo bom andamento do processo foi um caos: informações desconexas, explicações infundadas, mentiras e delegação de responsabilidades.
Há avaliadores que ainda não receberam pelos serviços prestados; os pagamentos foram realizados em datas diferentes das informadas, fazendo com que os avaliadores tivessem que ir ao banco inúmeras vezes. Os avaliadores foram informados de que o pagamento seria realizado em conta corrente cadastrada, mas muitos receberam por ordem de pagamento, graças à tentativa de um avaliador que descobriu seu pagamento e avisou aos demais, caso contrário, o problema poderia ser ainda maior.
Agora circula nas redes sociais as piadas em relação aos avaliadores, o MEC não dá uma resposta satisfatória e coerente, porque não pode dizer a verdade: o objetivo é aprovar o maior número possível de candidatos. Quem fica exposto somos nós, os avaliadores, professores que são orientados a esquecer o conhecimento que têm sobre estrutura do texto dissertativo-argumentativo, construção de argumentos, manutenção temática e até as regras de ortografia, acentuação e concordância, sob pena de terem seus sistemas bloqueados e serem excluídos do processo. Sim, isso foi o que aconteceu com os avaliadores que corrigiram de acordo com as orientações, com aqueles que passaram por cima dos absurdos para fazer o seu trabalho com seriedade, responsabilidade, atribuindo notas justas aos textos.
Temos certeza de que a verdade será mantida em sigilo, porque todos sabemos que uma avaliação séria das redações acarretaria altos índices de reprovação e consequência exposição do fracasso da educação brasileira. Nós não podemos avaliar as redações, seguindo critérios justos, éticos e coerentes, porque teríamos que colaborar para a divulgação dos níveis de leitura e escrita em que se encontram nossos alunos da Educação Básica, justamente o que o governo quer mascarar.
Ao assinarmos termo de sigilo, quando contratadas, ficamos “mudas”. Há redações circulando nas redes sociais; há jornais publicando os absurdos do processo. Em função do termo de sigilo, corremos risco de sermos processadas, caso divulguemos as informações que recebemos ao longo do processo. Tem sido difícil assistir a todos os comentários sem podermos nos pronunciar.
Assim, esperamos que a voz dos avaliadores também possa aparecer e que a sociedade saiba do que ocorre por trás daquilo que é divulgado.

Atenciosamente,

SUJEITO INEXISTENTE


sexta-feira, 22 de março de 2013

GRACINHAS DO ENEM...


Após miojo, Inep quer anulação de redações com gracinhas no Enem



Karina Yamamoto
Do UOL, em São Paulo
21/03/201312h05 > Atualizada 21/03/201312h33

Gracinhas como receita de miojo ou trecho do hino do time do coração na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) podem virar motivo de anulação da redação.

Essa é uma das propostas de aprimoramento do sistema que serão levadas pelo presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, à comissão que elabora o edital do próximo exame. O Inep é a autarquia federal responsável pela prova, que seleciona estudantes para instituições federais de ensino superior e serve para a certificação do ensino médio.

Nesta semana, duas redações ficaram famosas por esse tipo de gracinha -- um estudante inseriu o modo de fazer miojo e outro, o hino do Palmeiras na redação no Enem 2012.


Inserção indevida

Segundo o Inep, das mais de 4 milhões de redações corrigidas, apenas 300 apresentaram "inserções indevidas" -- ou seja, tinham um trecho sem conexão alguma com o restante do texto.  
"Temos que separar o joio do trigo", afirmou Luiz Cláudio Costa ao UOL. Ele disse que vai levar a proposta à comissão que elabora o edital do Enem. "Em respeito ao participante sério. Se esses alunos quiseram testar o sistema, precisamos ser ainda mais rigorosos."
Atualmente, esse tipo de deslize é "altamente penalizado", mas não elimina o inscrito, não leva nota zero. 
Segundo o presidente do Inep, o Enem é "um processo em aprimoramento" e, por isso, críticas à correção são bem-vindas e ajudam a enriquecer o debate técnico. O exame foi criado 1998 para diagnosticar a qualidade do ensino médio. A partir de 2009, passou a ser usado por instituições federais como prova de vestibular.

Novo patamar para 1.000

Uma nova discussão que pode ser levantada após a polêmica dos erros graves em redações com nota máxima é sobre como seriam os textos nota 1.000. O Jornal O Globo mostrou exemplos com erros de ortografia como "trousse" (em vez de trouxe) e "rasoável" (em vez de razoável).
Há uma corrente que defende a coerência do texto e articulações das ideias como prevalente sobre deslizes de ortografia e de gramática. Outro grupo considera que a nota máxima deva considerar a perfeição na grafia e na concordância.
"Acho a redação importante, pois o cidadão deve saber articular suas ideias em um texto e apresentar soluções aos problemas", diz Luiz Cláudio Costa. Não há intenção alguma de o Inep retirar a redação da avaliação.

SUJEITO/PREDICADO


quinta-feira, 21 de março de 2013

AINDA A REPERCUSSÃO DO ENEM...


21/03/2013 07h47 - Atualizado em 21/03/2013 10h31
Entenda por que redação do Enem com hino e miojo não vale nota zero
Segundo órgão que aplica o Enem, fuga do tema foi parcial nas redações.
Textos com hino do Palmeiras e receita de miojo tiveram nota 500 e 560.

Ana Carolina Moreno
Do G1, em São Paulo

Os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que inseriram uma receita de miojo e trechos do hino do Palmeiras na redação disseram ao G1 que esperavam tirar nota zero na prova. Segundo eles, a intenção era testar o sistema de correção da prova de redação. No entanto, de acordo com Paulo Portela, diretor-geral do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), órgão da Universidade Federal de Brasília (UnB) responsável pela aplicação do Enem, o edital do exame tem regras claras sobre as transgressões que anulam a prova. E trechos fora de propósito escondidos entre parágrafos pretensamente sérios não configuram uma fuga completa ao tema. Esta falha só existe se o candidato não cita a proposta da prova em nenhuma parte de seu texto.
Fernando Maioto Júnior e Carlos Guilherme Ferreira tentaram testar sistema de correção da redação do Enem (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Nesta semana, as redações de dois estudantes que já estavam matriculados no ensino superior, e por isso fizeram o Enem sem pretensão de tirar nota alta, acabaram ganhando destaque pela peculiaridade dos textos. Fernando César Maioto Júnior, de São José do Rio Preto (SP), inseriu no meio da redação sobre imigração no século 21 trechos do hino do Palmeiras e tirou nota 500 --a pontuação vai de 0 a 1.000.
Já Carlos Guilherme Custódio Ferreira, de Campo Belo (MG), decidiu ensinar uma receita de 'miojo' antes de concluir seu texto intitulado "Imigração ilegal", que acabou avaliado com a nota 560. O objetivo dos dois era provar que os corretores não liam as redações com atenção e, por isso, a nota dos candidatos era aleatória.
Fernando e Guilherme afirmaram que a nota mais justa para seus textos seria zero. Porém, para Portela, do Cespe, as notas 500 e 560 para as redações dos dois estudantes é prova de que os corretores não só leram os textos, mas também os corrigiram seguindo os critérios previstos no edital. "Não é aleatória, se você verificar onde eles levaram a menor nota, vai ver que foi nessas competências específicas. A nota baixa reflete exatamente que, quando ele utilizou argumentos completamente fora de propósito, ele foi apenado justamente por isso", explicou Portela ao G1.
"Se quisesse testar o sistema, poderia fazer um texto sobre a imigração no século 21 no Brasil e apresentar uma proposta de intervenção que ferisse os direitos humanos. Se fizesse isso, ele teria a nota zero", afirmou.
Ele afirmou ainda que a pontuação dos dois candidatos é considerada "o limite da reprovação", já que, por exemplo, um participante que queira usar o Enem para conseguir a certificação do ensino médio deverá tirar no mínimo 500 na redação para obter a qualificação em linguagens e códigos.

Nota dividida em cinco partes
Pelas regras de correção, a nota final da redação do Enem é a soma aritmética de cinco notas, atribuídas de acordo com competências diferentes. Por isso, a correção não leva em conta apenas se o estudante falou apenas sobre o assunto proposto, mas também se seguiu as regras da norma padrão da língua portuguesa, se usou a estrutura de texto dissertativo-argumentativo, se concluiu a prova com uma proposta de intervenção para o problema apresentado, entre outros (veja as competências na tabela abaixo):

COMPETÊNCIAS AVALIADAS NA PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM
Competência 1
Competência 2*
Competência 3
Competência 4
Competência 5
Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.
Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação.
Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
Valor: 0 a 200
Valor: 0 a 200
 
Valor: 0 a 200
Valor: 0 a 200
Valor: 0 a 200
(*) OBS: Caso o candidato tenha nota zero na Competência 2, ele terá a prova anulada
Fonte: MEC/Inep
Cada competência vale no máximo 200 pontos e, segundo Portela, a 2ª competência é a única que o candidato não pode zerar, porque isso anulará a prova. Ela fala justamente sobre abordar o tema proposto pela prova e, ainda, exige que o candidato elabore um texto usando a estrutura dissertativa-argumentativa. Segundo Portela, isso quer dizer, por exemplo, se candidato escreveu apenas sobre imigração, mas montou um texto em forma de poema, sua nota final será zero, mesmo que ele tenha cumprido as demais competências.

“Há introdução, desenvolvimento, você percebe que eles entram em hinos de time e em uma receita, que perdem a coerência textual, mas no final ainda voltam e concluem o texto"
Paulo Portela, diretor-geral do Cespe/UnB

Fuga do tema foi apenas parcial
No caso dos estudantes paulista e mineiro, o diretor-geral do Cespe/UnB diz que ambos cumpriram parcialmente a 2ª competência, porque sua redação foi dissertativa-argumentativa e o tema correto foi abordado tanto na introdução quanto na conclusão do texto.
"Essas duas redações que vêm sendo discutidas na internet, quando você olha para a estrutura delas, há introdução, desenvolvimento, você percebe que eles entram em hinos de time e em uma receita, que perdem a coerência textual, mas no final ainda voltam e concluem o texto", explicou Portela.

"Eles entram no tema, se perdem um pouco, como se o participante estivesse se perdendo no desenvolvimento, e no final fazem uma conclusão. Não é a conclusão esperada para uma nota alta, tanto que foram notas muito baixas."
A correção, segundo ele, deve seguir as regras do edital, mas os corretores, que em 2012 tiveram uma capacitação durante dois meses sobre todos os itens da avaliação da prova, também levam em conta o fato de que os candidatos são concluintes do ensino médio e fazem a prova sem o uso de recursos como gramática, corretor ortográfico e internet para buscar argumentos na hora de desenvolver a dissertação.

Nota zero
Ainda de acordo com o diretor do Cespe, mesmo com o aumento anual no número de candidatos do Enem, "o percentual está mais ou menos estabilizado em termos de redações brancas". O item 14.9 do edital do Enem 2012 estabelece as regras para que uma redação leve nota zero e, portanto, seja anulada:
14.9 Em todos as situações expressas abaixo, será atribuída nota zero à redação:
14.9.1 que não atender a proposta solicitada ou que possua outra estrutura textual que não seja a do tipo dissertativo-argumentativo, o que configurará “Fuga ao tema/não atendimento ao tipo textual”;
14.9.2 sem texto escrito na Folha de Redação, que será considerada “Em Branco”;
14.9.3 com até 7 (sete) linhas, qualquer que seja o conteúdo, que configurará “Texto insuficiente”;
14.9.3.1 linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no Caderno de Questões serão desconsideradas para efeito de correção e de contagem do mínimo de linhas;
14.9.4 com impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, que será considerada “Anulada”.

Portela afirma que o fato de os candidatos receberem o espelho da redação desde a edição de 2012 do exame pode fazer com que mais estudantes tentem repetir o exemplo de Fernando Maioto Júnior e Carlos Guilherme Ferreira.
"É possível que um candidato tente testar a banca, mas essa banca vai estar cada vez mais preparada para tratar uma situação como essa."