segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O SEXO & O TEXTO OU O TEXTO & O SEXO

Escrever um texto é como ter uma relação sexual. O sexo é uma troca de energia, um ato necessário para a procriação e para a satisfação fisiológica. Redigir é imprescindível: igualmente energético, gera prole (discussão ou outros textos) e também satisfaz o ego.
Assim como o ato sexual precisa de um(a) parceiro(a) – há quem não se importe com tal ausência –, o ato de escrever precisa de alguém para ler, ou não, caso o autor queira se resguardar no anonimato. A verdade é que ninguém jamais redige algo para não ser lido, se não, qual a graça e o motivo?
O sexo desprovido de amor ou paixão é a escrita mecânica, a prosa por encomenda; o sexo animal é o escrito demiúrgico, angustiado, poético; o sexo responsável, comedido, é a redação cautelosa, refinada.
Escrever é transar, chegar ao orgasmo, gestar, parir e amamentar nos poucos minutos da escrita. Jogar um filho ao mundo, talvez colhendo os louros ou as desditas do fruto concebido.
O começo do texto pode ser considerado as preliminares. Beija-se, abraça-se, excita-se de todas as formas possíveis para abrir o caminho para o porvir. A preparação para pegar o leitor, não fazê-lo desistir, deixá-lo doidinho para continuar! E é assim que começa um bom sexo, o início é um vislumbre do que vai acontecer!
Já o miolo do texto, a que muitos chamam de desenvolvimento, é o desenrolar do sexo, o ir e vir, o balanço gostoso que gera delícia: o ato em si. Há quem goste de ficar horas no meio, sem querer chegar aos “finalmentes”, pois o prazer gerado com uma boa prosa é sublime... E quantos bons argumentos! E quantos bons clímaces! Dependendo dessa fase, o final pode ser um incrível êxtase, pode ser arrebatador, como um bom texto que lemos de cabo a rabo, sem largar um só minuto esperando as derradeiras palavras!
E, por fim, a parte principal: o fechamento da obra, a conclusão, o desfecho, ou seja, o orgasmo, o gozo lítero-carnal. Premeditado, gérmen cultivado pelos autor e co-autor(leitor ou parceiro(a)) que explode em virulento tesão. Existem aqueles que asseguram que o redator escreve já tendo o final claro na mente. Todos que se entregam à doce luxúria sabem que o orgasmo é o último porto, o porto seguro. Às vezes o final do texto não funciona, assim como o orgasmo não vem. São as intempéries da vida, os maus escritos ou as escritas tortas!
Dessa forma, uma arte milenar, a da palavra escrita, catalisadora do saber, vai tomando rumo, vai se assenhorando da folha antes em branco, agora maculada, desvirginada pelos sinais e ícones latentes de uma dolorosa poesia, de uma lenda exuberante, de uma opinião formada, de uma narração documental, enfim, de uma simbologia que cerca toda a humanidade, todos os habitantes dessa nave desgovernada que é a existência.
Com sexo e muito texto ou sem sexo e com nada!
 Gustavo Atallah Haun - Professor.

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