segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O QUESITO LEITURA NO PAÍS DO SAMBA – II


Só há uma forma de aprender a escrever bem: lendo
Alberto Manguel
 
               A maior queixa de professores dos ensinos básico e superior é a falta de leitura por parte dos estudantes. Isso é dito sempre de boca cheia pelos docentes que, com certeza, desconhecem a culpa pelo despreparo e falta de incentivo do alunado e, conseqüentemente, da ruim (para não dizer coisa pior!) Educação atual.
Há um tempo atrás, uma pesquisa feita dentro da Universidade pública local mostrou que, curiosamente, os discentes que menos freqüentam a biblioteca do campus são os do curso de Letras(?!), justamente um dos agentes protagonistas que irão encarar a sala de aula nos quesitos leitura, interpretação e escrita, embora todas as disciplinas trabalhem interdisciplinarmente com tais fatores.
Não existe fórmula mágica: só formamos leitores quando somos leitores, quando somos exemplos. Tenho certeza de que isso é válido para tudo o que desejamos transmitir, ensinar ou fazer compreender na Educação do ser humano.
Por outro lado, ensinar a ler é complicado, pois esse é um ato complexo e que nunca iremos atingir na sua totalidade. Como ensinar às pessoas algo heterogêneo, subjetivo e que depende mais delas próprias? O que nós educadores devemos fazer – e já é uma grande vitória quando conseguimos – é despertar a vontade, o tesão, o desejo da leitura, além de ficarmos incentivando, mostrando os diferentes ângulos de interpretação, dando pistas, tampando as prováveis lacunas lingüísticas, textuais, enciclopédicas (KLEIMAN, A.: 1986) e tentando fazê-las enxergar nas entrelinhas, o que está por trás do discurso oral, escrito ou não-verbal.
Leitores são formados desde o ventre e continuamos até o fim da existência. Os pais, se bem orientados, podem colaborar e muito para tornar o(s) seu(s) filho(s) leitor(es): contando histórias desde a gravidez, lendo poemas, parlendas, cantigas de roda, narrando “causos” do folclore para as crianças. Afinal, quem não se recorda das fábulas e lendas contadas pela avó ou pela mãe no balanço da rede?
Após essa introdução feita pelos familiares, a escola entra (ou pelo menos deveria entrar!) com profissionais preparados para prosseguirem o trabalho de formação de leitores. Os docentes que lidam diretamente com essa questão devem orientar com lucidez os seus pupilos. Entretanto, muitas vezes, o que realmente acontece em sala de aula são os professores mandarem ler um texto e, depois de lido, ficarem perguntando absurdos, do tipo: “qual o sujeito do primeiro parágrafo?”, ou então, “retire um substantivo concreto da segunda frase”... Jamais discutem o sentido, a essência do texto, ou seja, o que na verdade lemos, que não é o que está escrito e, sim, os silêncios que existem entre uma palavra e outra, como dizia o filósofo Foucault, em sua obra A ordem do discurso.
Da mesma maneira, aprender a pensar bem só é possível se lermos bons textos, lermos, é claro, interpretando os múltiplos significados que dão sentido ao texto. Assim, intrinsecamente ligado à leitura e ao aprender a pensar, iremos produzir bons textos, escrever melhor. O naturalista e crítico literário francês Buffon (1707-1788) pregava que “os nossos conhecimentos são os germes das nossas produções”.
Portanto, os verbos ler, pensar e escrever estão ligados uns aos outros como um elo indestrutível, uma corrente indissociável e serão eternamente conjugados fazendo a diferença entre os homens medíocres, indiferentes, horizontais e os sagazes, inteligentes, profundos.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

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