segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Vou para lá ou vou para cá?

Ler, como disse Alberto Manguel em seu livro Uma História da Leitura, “é cumulativo e avança em progressão geométrica: cada leitura nova baseia-se no que o autor leu antes”. Lendo, ampliamos nosso repertório, fazemos textos dialogarem entre si, exercitamos nosso conhecimento de mundo, de nós mesmos e dos outros, aprendemos a ler nas entrelinhas.
A leitura envolve um exercício de seleção, de distinção do que é essencial e do que é secundário num texto, além do reconhecimento do modo pelo qual o autor enuncia suas ideias, isto é, o reconhecimento de suas intenções para que se possa construir o sentido do texto.
Ao analisar, procedemos ao reconhecimento das partes do texto, dos recursos estilísticos utilizados, da organização de linguagem e do modo como as ideias se desenvolvem. Alicerçados nessa análise, temos condições de interpretar o texto sem incorrer em três tipos de erros:

a)         Extrapolação: o leitor foge ao texto, vai para além dos seus limites;

b)      Redução (ou particularização indevida): o leitor aborda apenas uma parte do texto, um detalhe que não é suficiente para explicar todo ele. Normalmente, esse erro decorre da não-identificação das ideias mais importantes do texto durante o processo de análise;

c)           Contradição: o leitor chega a conclusões opostas às expressas pelo texto.

Vejamos um exemplo desses erros:

ELEGIA

Ganhei (perdi) meu dia.
E baixa a coisa fria
Também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaçam, num suspiro.

E me pergunto e me respiro
na fuga deste dia que era mil
para mim que esperava
os grandes sóis violentos, me sentia
tão rico deste dia
e lá se foi secreto, ao serro frio (...)
Carlos Drummond de Andrade

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  • extrapolação: o poeta exprime um suave sentimento de tranquilidade, ao cair de uma noite de inverno – ele merecera e ganhara mais um dia, aproveitando o descanso da noite para meditar.
Esta interpretação afirma o que não está presente no texto.

  • redução: a poesia é puramente objetiva e descritiva. O poeta pretende transmitir-nos, quase que fisicamente, a sensação de um dia de inverno.
Aqui, o leitor só observou o sentido denotativo do texto, ignorou o sentido figurado.

  • contradição: os sóis eram violentos, por isso o poeta prefere a noite que se entrelaça em bruma, num suspiro.
O leitor afirma exatamente o contrário do que o texto diz que é: o poeta sentindo-se próximo do fim da vida, faz um retrospecto melancólico, confrontando o muito que espera e o nada que tem nas mãos.

Você deve lembrar-se desses perigos que rondam sua interpretação e, num constante exercício de leitura e produção de texto, aprimorar-se no uso da Língua Portuguesa.
Boa sorte!

(Minimanual Compacto de Redação e Interpretação de Texto, editora Rideel, p. 306 e 307)

6 comentários:

  1. Muito interessante essas dicas Gustavo. Adorei!
    Uma ótima semana pra ti! E as postagens estão lindas! Abraço!

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  2. Seu blog é um rico recurso educacional. Obrigada por mais esta ferramenta.

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  3. Seu blog é um rico recurso educacional. Gta. Dani

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  4. “Politics? Boring? Politics is history on the wing! What other sphere of human activity calls forth all that is most noble in men's souls, and all that is most base? Or has such excitement? Or more vividly exposes our strengths and weaknesses? Boring? You might as well say that life itself is boring!”
    dimitatu

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