terça-feira, 11 de outubro de 2011

O FUTURO DA ESCOLA


O ano é aproximadamente 2030. Os alunos chegam para a sala de aula da Escola Cibernética, um termo em desuso da época, mas que a Escola teima em usar. Alguns vão descendo de seus veículos movidos a água ou eletricidade, que sequer tocam o chão. Outros preferem um jeito mais independente, indo para os estudos com o seu motor de propulsão feito uma mochila nas costas, aterrissando no que sobrou da antiga quadra poliesportiva. 
Os estudantes seguem para as salas, que em nada se parecem com as de antigamente: são coloridas, em forma de anfiteatros, com computador pessoal em cada assento, quadro interativo em 3D e, principalmente, não tem professor, apenas um robô-monitor por turma para ajudá-los caso alguma coisa falhe, quebre, ou os discentes não entendam, o que são coisas raras de acontecerem.
Nessa Escola não se usa lápis, cadernos e livros, apetrechos quase pré-históricos, anti-higiênicos e ecologicamente inadequados. As lições e os exercícios são virtuais e o aluno, ao final de cada dia letivo, envia tudo o que estudou diretamente para o seu endereço eletrônico, caso queira revisar em casa, assim como a avaliação que fará a cada final de aula.
Não há pobre frequentando a Escola no meio do século XXI. Somente a classe alta participa do ambiente escolar, visto que são os únicos capazes de pagá-la. Não há escola pública, o Estado desistiu de mantê-la, visto os problemas com as inúmeras greves, insatisfações, más administrações e turbulenta crise dos anos 10. Resolveu, então, que a classe baixa unicamente trabalhava e não necessitava, nem necessitaria, de estudo. Não há mais classe média no mundo: ou se é rico, ou se é pobre.
A aula principia, todos estão bem acomodados nas suas cadeiras multiuso, que podem virar divã, monitor de cristal líquido à frente, quando um docente andrógino virtual aparece na tela e anuncia: “Sejam bem-vindos! Desejo a todos um bom dia de aula!”, e assim da início à lição de acordo com o programa anual digitado em sua super memória RAM. Os alunos assistem a tudo com vídeos, hologramas, dinâmicas virtuais, mapas tridimensionais reais, obtidos através de imagens de satélites, e o professor na tela sempre falante, gentil na explanação, sem se cansar, sem faltar aula, feito uma máquina compreensiva do saber.
Ao final das palestras cibernéticas, o discente recebe o dever de casa para a devida avaliação: aplicar as teorias bebidas naquela doce manhã outonal. Assim são dadas as notas, com a efetiva introdução do saber adquirido ou rememorado no contexto de vida do estudante. Sem papéis, sem boletins, sem reprovação. A vida teórica é totalmente virtual, mas a existência física é onde se pratica o que se aprende. E por isso todos são conscientes da necessidade de aplicação empírica do que receberam, pois são discípulos críticos e privilegiados de uma nova era.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

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