quarta-feira, 20 de março de 2013

E MAIS DO ENEM...


Enem 2012: hino do Palmeiras garante 500 pontos à redação
Estudante usa dois parágrafos do texto para escrever canção do time


Lauro Neto (
Email · Facebook · Twitter)
Leonardo Vieira (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 19/03/13 - 19h23
Atualizado: 19/03/13 - 21h08

Em redação que recebeu nota 500, candidato escreve o hino do Palmeiras em dois dos quatro parágrafos Reprodução

RIO - Vale tudo na redação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), até declarar o amor pelo time de futebol. Foi o que fez um candidato na última edição da prova ao escrever o hino do Palmeiras em seu texto. Apesar de dedicar dois dos quatro parágrafos à canção, o estudante tirou 500 pontos num total de 1000. O aluno até aborda o tema “Movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI”, mas nos parágrafos de desenvolvimento se dedica à paixão por seu clube.
O autor do texto é o paulista Fernando Maioto, que já havia sido aprovado em Medicina na Faculdade Faceres, em São José do Rio Preto. Ele conta que sua intenção foi a de testar a banca de correção do Enem.
— Sempre escutei histórias de pessoas que fizeram a redação e colocaram receitas de bolo. Como eu sabia que este ano a redação poderia ser visualizada, resolvi escrever o hino do meu time. Mas o grande intuito mesmo era mostrar que os corretores não leem completamente a redação — diz Fernando, que acredita que merecia zero na redação.
No segundo parágrafo, após a frase introdutória “As capitais, praia e as maiores cidades são os alvos mais frequentes dos imigrantes”, ele começa a escrever parte do hino: “porque quando surge o alviverde imponente no gramado onde a luta o aguarda, sabe bem o que vem pela frente e que a dureza do prélio não tarde. E o palmeiras no ardor da partida, transformando a lealdade em padrão. Sabe sempre levar de vencida e mostrar que de fato é campeão”. Depois do trecho do hino, ele retoma o tema da imigração, ainda no mesmo parágrafo, com a frase “Por este o principal motivo de invasão de imigrantes”.
No parágrafo seguinte, o estudante acrescenta a conjunção adversativa “entretanto”, antes de voltar ao hino com o trecho “defesa que ninguém passa, linha e atacante de raça torcida que canta e vibra por nosso alviverde inteiro. Porque quem sabe ser brasileiro, hostenta (sic) a sua fibra”. Como o hino chega ao fim, ele fecha o parágrafo com “Fazendo com que muitos imigrantes se tornem escravados (sic) do século XXI”.
Em nota, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) esclarece que os avaliadores identificaram a impertinência do texto inserido, o que trouxe para a redação palavras e expressões sem sentido e em estilo inadequado ao tipo textual exigido na prova. Segundo o Inep, a redação obteve nota 500, tendo nota baixa especialmente nas competências I e II. De acordo com a nota “desconsiderada a inserção inadequada, o texto tratou do tema sugerido e apresentou ideias e argumentos compatíveis. O texto indica compreensão da proposta da redação, não fugiu ao tema por completo e não feriu os direitos humanos”.
Já para o professor de Letras e vice-reitor da Universidade Estácio de Sá, Deonísio da Silva, mesmo que candidato tenha comentado parcialmente o tema, sua prova deveria ser desconsiderada e sua nota, zerada.
— Ele usou o hino do Palmeiras no meio da frase para disfarçar. Eu penso que é deboche, mas, mesmo se não for, ainda sim ele quebrou com a lógica argumentativa. Eu daria zero — opinou o vice-reitor.
Já Lucília Garcez, doutora em linguística aplicada defende a nota 500, dizendo que a orientação aos corretores é aproveitar o que for possível no texto.
— Se você observar bem a redação, excluindo a brincadeira de colocar o hino do Palmeiras, o participante escreve bem, não comete muitos erros de língua portuguesa, articula bem as ideias. E não fugiu totalmente do tema, chegou a desenvolvê-lo bem. Talvez, se ele não tivesse feito essa brincadeira, poderia até tirar nota máxima. Ele foi apenado por inserir um trecho fora do tema — diz Lucília.
Ex-corretor da banca, o professor Wander Lourenço afirma que exemplos como esse texto devem ser desconsiderados pelo avaliador.
— Esses casos mostram uma grande crise de ética. Eles têm o propósito de enganar a banca — argumenta.


© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário